Um eixo sob ameaça
Os 885 km de extensão da rodovia BR-319 conectam Manaus/AM a Porto Velho/RO, interligando 22 municípios por entre a floresta amazônica, na região entre os rios Madeira e Purus. A rodovia foi inaugurada em 1973, no contexto de colonização da Amazônia e desativada por volta de 1988. Em 2005, o governo federal anunciou a recuperação da rodovia por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas inconsistências nos estudos e relatórios de impacto ambiental têm dificultado o processo de licenciamento ambiental.
A região de influência da BR-319 totaliza cerca de 553 mil km², com população estimada em 1.3 milhões de habitantes, dos quais 70% vivem em áreas urbanas. Embora existam diversas lacunas de informação científica, é um território altamente biodiverso, com altos índices de endemismo de espécies e marcante presença de populações indígenas e ribeirinhas.
As margens da BR-319 são circundadas por extensas áreas protegidas, entre unidades de conservação - principalmente unidades de uso sustentável - e terras indígenas, de etnias como Mura, Mundukuru, Apurinã, Paumari e Parintintin. Muitas das unidades de conservação foram criadas recentemente pelos governos federal e estaduais como parte da estratégia de mitigação dos potenciais efeitos ambientalmente negativos da recuperação da rodovia BR-319.
Por um novo caminho
A história nos ensina: há extensa documentação sobre o potencial de indução de desmatamento a partir da abertura de estradas em áreas de floresta. Estudos recentes estimam que os prejuízos causados pela recuperação da BR-319 poderiam chegar a 2,2 bilhões de reais, ao se incorporarem os custos ambientais do desmatamento a ser induzido.
A CI-Brasil acredita que a recuperação da BR-319 - já em execução em diversos trechos - pode ser extremamente prejudicial ao equilíbrio do ecossistema amazônico na região e das pessoas que lá residem, caso não sejam implementadas adequadamente medidas robustas de mitigação e prevenção do desmatamento.
Para isso, a CI-Brasil aposta na sua capacidade de cultivar parcerias estratégicas na região e influenciar - com uma base sólida em ciência - os rumos do desenvolvimento nesse território, demonstrando as virtudes de uma sociedade que protege seu capital natural, produz riquezas de modo sustentável e estabelece uma governança participativa e transparente.
Nosso objetivo
Atuar estrategicamente na esfera de política públicas, contribuindo com o poder público na elaboração de iniciativas de desenvolvimento e ordenamento territorial, incentivando o fortalecimento da gestão e governança de áreas protegidas, além de contribuir para a geração de conhecimento científico para fundamentar ações de conservação no território - sempre em prol do bem-estar humano na região.
Nossa estratégia
- Apoiar o fortalecimento da gestão das unidades de conservação e terras indígenas da região. Contribuir para o fortalecimento de atores que promovam efetividade na gestão, proteção e uso sustentável das unidades de conservação. Para as terras indígenas, são prioridades as iniciativas de redução dos conflitos por território e efetivação de práticas produtivas sustentáveis;
- Fomentar arranjos de governança que contemplem a participação social, por meio da identificação de parceiros da sociedade civil para o controle e acompanhamento de políticas públicas, visando a sustentabilidade financeira e o desenvolvimento socioeconômico da região;
- Fortalecer as cadeias produtivas sustentáveis, como a cadeia florestal madeireira e não-madeireira, por meio de arranjos produtivos locais, bem como contribuir com estruturação da cadeia produtiva da pesca e piscicultura na região;
- Desenvolver e disseminar metodologias de produção e extrativismo sustentáveis na região, apoiar e disseminar o conceito de agronegócio sustentável, contribuindo também para a recuperação de áreas de reserva legal e proteção permanente.