Inventário na Flona Pau Rosa revelou novas espécies de sapo
maio 13, 2014
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Inventário na Flona Pau Rosa revelou novas espécies de sapo
Coordenada pela CI há cinco anos, expedição científica tinha como objetivo coletar informação biológica e social para subsidiar plano de manejo da unidade de conservação
Belém, 14 de maio de 2014 —
Floresta Nacional de Pau-Rosa - um paraíso da biodiversidade no coração da Amazônia Brasileira
Por Pedro Peloso e Marcelo José Sturaro
Quando o barco zarpou do porto de Maués, não imaginávamos o que iríamos vivenciar nas semanas seguintes. Entre os diversos tripulantes do “Cometa Halley” a animação era geral e a sensação de deixar a civilização moderna para trás rumo ao desconhecido logo se apossou de nossos ânimos. A paisagem urbana dava lugar a casas ribeirinhas feitas de madeira e cobertas com folhas de palmeiras, dezenas de pássaros e uma imensidão de áreas verdes. Os recreios e canoas que cruzam o nosso caminho são cada vez menos numerosos à medida que nos afastamos do ponto de partida.
Escolhida a dedo pela Conservação Internacional (CI-Brasil), a equipe selecionada para fazer o primeiro levantamento da fauna da Floresta Nacional (Flona) de Pau Rosa, no estado do Amazonas, era composta por seis zoólogos (dentre os quais nós dois compúnhamos a equipe de herpetólogos – estudo de anfíbios e répteis). Completavam a expedição, botânicos, sociólogos, e a tripulação do barco. O trabalho foi sempre acompanhado por Hueliton Ferreira, hoje grande amigo, até então analista ambiental do ICMBio. A expedição, primariamente científica, tinha o intuito de coletar informação suficiente sobre a biota e moradores da região, para a elaboração do Plano de Manejo da Unidade Conservação – com coordenação da CI a apoio técnico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), além do ICMBio.
O trabalho começou já no primeiro dia após ancorarmos próximo a comunidade ribeirinha de São Tomé. Reconhecimento de área, abertura de trilhas, instalação de armadilhas de interceptação e queda, redes de pesca e de captura de aves, câmeras fotográficas e binóculos. Durante pouco mais de três semanas e morando em redes a bordo do Cometa Halley essa foi a rotina: acordar com o reflexo do sol nas águas do rio Paraconi, coletar, triar amostras no dia seguinte, e muito tempo pra pensar e tentar entender a beleza única daquele pedaço de paraíso. A diversidade biológica da Flona é impressionante, mais de 40 espécies de anfíbios, 20 répteis e quase 270 espécies de aves foram amostradas num período relativamente curto. É provável que novas expedições venham a revelar ainda mais espécies.
A viagem ocorreu em fevereiro de 2009 e agora, cinco anos após a viagem, resolvemos compartilhar imagens e estórias vividas nesse pedacinho de paraíso esquecido no meio da floresta amazônica. Porque só agora? Porque recentemente completamos a descrição de uma das nossas descobertas feitas durante a viagem. Trata-se de uma espécie de perereca até então desconhecida para a ciência.
Oficialmente apresentada à ciência no final de março, a Scinax sateremawe foi encontrada durante andanças noturnas na exuberante floresta de terra firme da Flona. Trata-se de uma espécie abundante em lagoas e poças temporárias (formadas pela água das chuvas) no interior da mata. O nome foi dado em homenagem aos índios Satere Mawe (ou Sateré Maué), habitantes da região e famosos pela domesticação do guaraná. A “perereca satere-maué” é a segunda espécie de sapo que descrevemos com material proveniente da expedição. No ano passado descrevemos, em colaboração com biólogos do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) uma pequena rãzinha, Allobates grilllisimilis, bastante abundante na Flona, mas também encontrada na região de Borba, no Amazonas. Mais espécies ainda serão descritas a partir de material da região. Pelo menos mais duas espécies de perereca encontradas durante nossa expedição ainda aguardam seu batismo científico.
A viagem se encerrou no porto de Manaus, onde os membros da expedição seguiram seus caminhos, compartilhando as estórias vividas com amigos e familiares. Pouco mais de cinco anos se passaram desde que a viagem ao Paraconi chegou ao fim, mas as imagens captadas, amigos, e principalmente o legado científico que pudemos coletar durante a viagem, continuam vivos em nossas memórias. Como sempre, a viagem nos deixou saudade, mas também diversas boas lembranças e estórias para contar para os netos. Esperamos um dia, ter a sorte de voltar a andar pela bela Floresta de Pau-Rosa. Local de beleza e diversidade inigualáveis, no coração da Amazônia brasileira.
Pedro Peloso é biólogo e atualmente faz doutorado no Museu Americano de História Natural, em Nova York.
Marcelo Sturaro também é biólogo e divide seus estudos de doutorado entre o Museu Paraense Emílio Goeldi e a University of Michigan, nos Estados Unidos.
SAIBA MAIS:
Sobre a perereca satere-maué: http://www.scielo.br/pdf/paz/v54n2/01.pdf
Sobre a Flona de Pau-Rosa:http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/amazonia/unidades-de-conservacao-amazonia/1889-flona-de-pau-rosa.html
Sobre as aves: http://www.ararajuba.org.br/sbo/ararajuba/artigos/Volume192/ccount/click.php?id=5
Sobre uma nova espécie de rã: http://www.mapress.com/zootaxa/2013/f/z03609p273f.pdf
Sobre os autores: http://research.amnh.org/users/ppeloso/
Contatos para imprensa
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