Cientistas da Conservação Internacional falam sobre a importância de fortalecer a participação de mulheres na ciência
fevereiro 10, 2021
Mulheres cientistas estão numa posição única para compreender os desafios ambientais - como estiagens, enchentes, eventos climáticos extremos e segurança alimentos - que outras mulheres enfrentam. A perspectiva empática, é apenas um dos milhares de motivos que existem para incentivar a maior participação de mulheres na produção científica no Brasil.
Apesar de inúmeros desafios - que incluem a maternidade, relações familiares, desigualdades salariais e de oportunidade, assédio e outros - as mulheres seguem dando valiosa contribuição para o Ciência. Dados da Unesco publicados em 2018 mostram que 49% dos artigos científicos publicados por cientistas brasileiros têm mulheres como principal autora. Entretanto, quando é analisada a quantidade de mulheres que trabalham em instituições de pesquisas, essa porcentagem cai drasticamente. Na Academia Brasileira de Ciência, por exemplo, apenas 14% são mulheres.
Pensando nesses desafios e em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado nesta quinta-feira, 11 de fevereiro, mulheres cientistas da Conservação Internacional falam sobre a importância de fortalecer a participação de mulheres na produção científica. Confira:
Rachael Biderman, vice-presidente sênior de Américas da Conservação Internacional
“A participação de mulheres sempre enriqueceu a ciência. No passado, eram pouco reconhecidas e muitas vezes escondiam-se por detrás de lideranças masculinas, sem poder sentar-se ao seu lado, e participar de igual para igual na publicização de feitos científicos. Hoje, as mulheres têm sua contribuição mais bem reconhecida em alguns países do mundo, mas ainda não o suficiente. E há partes do planeta em que isso acontece ainda de forma muito tímida, ou sequer existe. Para a mulher realmente poder realizar seu potencial na ciência, teremos que evoluir em vários aspectos, a começar pelo acesso à educação básica para meninas, principalmente nos países mais pobres. Ampliar acesso a bolsas de estudos e de pesquisa, permitir que tenham acesso equitativo aos espaços de tomada de decisão na governança de grandes centros de pesquisa ou de fomento à mesma, estão entre outros desafios. Espaço em revistas científicas também é desafiador, seja no corpo diretivo que decide o que será publicado, seja no espaço para publicações. Muitas mulheres que cresceram na ciência tiveram que sacrificar algo, na maioria das vezes a família. A divisão de trabalho equitativa no ambiente do lar é fundamental para que as mulheres possam ter acesso ao seu lugar na ciência também. E, ainda, muitas pesquisas dependem do afastamento da mulher do lar, de viagens longas, o que é pouco ou nada compreendido em muitas sociedades. Muitas mulheres têm sua carreira interrompida quando se tornam mães e a ciência perde grandes cérebros e descobertas com isso. A mulher não deveria ter sua realização profissional ameaçada pela falta de apoio familiar. O futuro da ciência depende da educação que damos para nossas filhas. Elas precisam saber que ser cientista é uma opção para elas também, portanto o diálogo em família precisa garantir essa possibilidade para as meninas, pois se não enxergarem esse potencial, não o realizarão. E muito depende dos pais para essa possibilidade tornar realidade.”
Danielle Celentano, gerente sênior de restauração de paisagens florestais da Conservação Internacional
‘Ampliar e fortalecer a participação das mulheres na ciência, assim como em todos os setores, é o caminho para um mundo mais justo, sensível e potente. Não existe processo civilizatório sem equidade de gênero.”
Renata Pereira, gerente de projetos da Conservação Internacional
“A diversidade traz fortaleza. Essa lição é aprendida com a biodiversidade ou, em muitos casos, com a falta dela. E pode ser demonstrada com a diversidade das pessoas nas diferentes frentes da sociedade. Ter mais mulheres na ciência, e que elas possam efetivamente se dedicar e ter o respeito e a visibilidade que merecem, fortalece a produção científica como um todo. Para fortalecer esse papel, é essencial reconhecer necessidades e desafios específicos das mulheres e avançar nas formas de superá-los. Ainda hoje, muitas acumulam tarefas domésticas, não há políticas públicas ou incentivo para gestantes nem para lactantes, o que coloca as mulheres em desvantagem e impede que atinjam seu pleno potencial.
A igualdade de gênero na ciência ainda está longe de ser uma realidade. Para exemplificar, as mulheres estão mais sujeitas a assédio, têm menos visibilidade e acessam menos recursos do que os homens.
As meninas precisam de referências e, para termos mais mulheres na ciência, precisamos dar visibilidade para as mulheres que estão na ciência hoje.”
Contatos para imprensa
Inaê Brandão – Coordenadora de Comunicação
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