Com apoio do projeto ASL Brasil, monitoramento de crocodilianos realizado na Amazônia aponta alta densidade de jacarés no baixo Rio Madeira
fevereiro 23, 2025
Créditos: ICMBio - Relatório de Monitoramento ASL Brasil
Porto Velho, Rondônia – A densidade populacional de jacarés surpreendeu pesquisadores de um estudo sobre crocodilianos na Reserva Extrativista (RESEX) Lago do Cuniã, localizado no baixo Rio Madeira, no estado de Rondônia. “No período de intensa seca, os animais migraram de lagos adjacentes, concentrando-se na parte principal do rio [Igarapé do Cuniã]”, explicou o Chefe Substituto do Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Cuniã-Jacundá, Cristiano Andrey Souza do Vale. Expedições são efetuadas sistematicamente na região e, em 2024, contaram com o apoio da Conservação Internacional (CI-Brasil), por meio do projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil), uma iniciativa do governo federal em parceria com governos estaduais, que tem avançado na promoção da conservação e do desenvolvimento sustentável na Amazônia.
O monitoramento da dinâmica populacional de jacarés na RESEX Lago do Cuniã tem sido realizado nos últimos 20 anos sob a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/ICMBIO), contando com a participação efetiva das comunidades locais da RESEX. "Durante as expedições, realizadas com o apoio do projeto, foi possível monitorar a distribuição e abundância das espécies Melanosuchus niger (Jacaré Açu) e Caiman crocodilus (Jacaretinga), avaliar o potencial reprodutivo, e realizar atividades educativas sobre a biologia dos jacarés na escola da comunidade local, visando a conscientização e a convivência harmoniosa com os jacarés da RESEX, inclusive prevenindo eventuais acidentes”, explica Leuzabeth Silva, Gerente de Projetos da CI-Brasil, agência executora do Projeto ASL Brasil.
Além disso, as pesquisas apoiadas no âmbito do projeto ASL Brasil incluíram também a análise da condição corporal dos indivíduos, os níveis hormonais, a incidência de hemoparasitoses e o efeito da temperatura no desenvolvimento embrionário dos jacarés. Durante as expedições realizadas em 2024, foram observados mais de 2,7 mil jacarés, variando de 81 a 315 jacarés por km, com a ocorrência de jacarés de todas as idades, de ambos os sexos das duas espécies estudadas.
A alta densidade populacional verificada na RESEX indica que manejo na região tem sido feito de forma sustentável, como explica Cristiano Andrey. “O trabalho de monitoramento é fundamental para sabermos se a população está aumentando ou diminuindo mediante a prática de manejo da região”, diz Cristiano.
Zacarias de Souza Santos, morador da RESEX Lago do Cuniã, que acompanha as visitas da equipe do ICMBio por meio do projeto, sente os efeitos das mudanças do clima na natureza nas épocas de desova. Ele retrata que a seca impacta no tempo da produção dos ninhos, fazendo com que os jacarés desovem antes. “Os jacarés costumam se reproduzir no mês de setembro. Como esse ano foi uma seca mais rápida, em agosto eles começaram a subir para poder fazer os ninhos. Aí eu vejo essa movimentação, checo se os ninhos estão prontos e quando eles colocam os ovos”, explica Zacarias de Souza Santos, morador comunitário da RESEX Lago do Cuniã.
Por que apoiar o monitoramento de crocodilianos é importante?
Apoiar iniciativas de monitoramento de crocodilianos, como o realizado na RESEX Lago do Cuniã, é crucial tanto para a conservação da natureza quanto para o bem-estar das comunidades locais. Ataques de jacaré já foram registrados na região, com um incidente fatal ocorrido há mais de 20 anos. A partir deste evento, a comunidade iniciou a pesquisa e o monitoramento sobre a população dos crocodilianos na reserva para entender mais sobre os hábitos dos animais. Desde o início do trabalho, nenhum outro acidente foi registrado.
“Todo apoio que vem para cá é bom para a comunidade que se envolve nesse projeto [de monitoramento dos crocodilianos]. Assim, podemos trabalhar mais na cadeia produtiva, e tudo isso é importante para a biodiversidade”, reforça Zacarias de Souza Santos, morador comunitário da RESEX Lago do Cuniã.
O monitoramento contínuo das populações de jacarés ajuda a garantir a conservação dessas espécies e a manutenção do equilíbrio ecológico, além de fornecer dados valiosos para a pesquisa científica. Essas informações permitem implementar práticas de manejo sustentável, preservando os recursos naturais para as gerações futuras. Além disso, o monitoramento ajuda a identificar áreas com alta densidade de jacarés, prevenindo ataques e garantindo a segurança das comunidades.
Sobre o Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia
O Projeto Paisagens Sustentáveis na Amazônia (ASL Brasil) é uma iniciativa do governo federal em parceria com governos estaduais, que tem avançado na promoção da conservação e do desenvolvimento sustentável na Amazônia.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, por meio da Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais (SBIO/MMA), coordena o Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil), executado pela Conservação Internacional (CI-Brasil), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e Fundação Getulio Vargas (FGV Europe), em parceria com órgãos estaduais de Meio Ambiente (OEMAs) e órgãos federais responsáveis pela gestão de áreas protegidas.
O ASL Brasil se insere no Programa Regional ASL, implementado pelo Banco Mundial (BM) e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), que inclui projetos no Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. Juntos, visam melhorar a gestão integrada da paisagem na Amazônia.
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